Palavra para Francisco Velasco (24/04/09)
Tirado em: https://patinslover.blogspot.com
Francisco Velasco (ex-internacional português e profundo conhecedor da modalidade) para Zé Carlos.
''Olá, Zé Carlos.
Admiro a tua incansável persistência, sempre em cima das coisas do hóquei e animado por essa tua paixão pela modalidade que não te larga há pelo menos 40 anos. Quarenta anos! E tu aí apareces e desapareces como um «fumo», cheio de ideias e projectos. Pareces o D. Quixote! A correr atrás dos Moínhos de Vento.
No Mundo, o Hóquei em Patins internacional, está morto, de morte matada! Isto para não falar a nível nacional, onde o cenário é confrangedor. Só existem dois países com potencial permanente, Portugal e Espanha. O resto são aprendizes «do feiticeiro» que por vezes aparece, como «um sabe tudo» (tal como sucede por estas bandas) e toma conta duma selecção. A a sua influência é zero, absolutamente zero!
Acho que à semelhança dos EUA, que promovem o Futebol Americano e estão-se marimbando para o resto do planeta, Espanha e Portugal deviam criar uma Liga Ibérica e atacar a sua implementação via marketing agressivo, a fim de enraizar uma imagem forte de modo a cimentar definitivamente o seu futuro.
O modelo actual de Grupos A e Grupos B, a competirem para subirem ou evitar baixar de escalão, não funciona para a expansão do hóquei, é absoleto.
Os modelos a estudar e introduzir, têm de ser regionais, Macau, China, Australia, India, Japão, etc. têm de progredir isoladamente.
Cada cidade deve ter pelo menos 4 a 6 equipas, (tal como em Lourenço Marques do passado) cujos hoquistas evoluiram por si próprios a pontos de terem dominado o hóquei mundial. O mesmo se aplica à África Austral, com Moçambique, África do Sul, Angola, ao continente Americano, com o Brasil, Chile, Argentina e EUA, e à Europa dos turistas, como a Bélgica, Inglaterra, Holanda, França, Alemanha e Itália.
Têm de fazer o caminho sozinhos, sem esperar nada das FIRS, CIHR e CERS, tão pouco das suas Federações. Esses são lugares de «poleiro», burocratas empenhados com papéis, e alguns «encartados» que pouco percebem como é que o hóquei evoluíu.
E quem não conhece o passado, nunca perceberá o futuro e digo-te, com franqueza, que nos meus largos anos ligados apaixonadamente à modalidade, sempre muito próximo dela e deles, dos protagonistas, nunca ouvi ninguém discorrer sobre algo de interesse e fosse revelador de conhecimentos alargados e integrados.
O que vejo são os dirigentes e outros imbecis, armados em «engenheiros» de canetas nas mãos, a mudarem as linhas de anti-jogo dum lado para outro, a aumentar as balizas, a alargar o equipamento dos guarda-redes, a mudar as marcações do campo, sem mínima racionalidade, sem o mínimo suporte inteligente para essas alterações.
Não percebem nada de hóquei e põe-se com ares de eruditos a opinar sobre coisas que não conhecem e que nem sequer estudam como deve ser.
Com excepção dos actuais, conheci todos outros ao longo de sessenta anos. São todos uns cromos que não gostam de ser contrariados com argumentos sensatos e lógicos, porque ficam «chateados» ao serem vistos como burros que são. Atiram nessas alturas a frase mais inóqua que existe - «na minha opinião...!»
Num Curso de Treinadores de que fui Prelector, abri a sessão dirigindo-me a uma vintena deles, todos activos na nossa praça e outros em busca de licenciamento, com a seguinte declaração:
-«Sou uma pessoa que não se interessa por «opiniões», seja de A, seja de B, pois eu só expresso «conhecimentos». Todavia, se algum de vós pretende transmitir o seu conhecimento, eu cedo o microfone imediatamente.
O resultado foi que falei durante três ou quatro e horas e ninguém pediu o microfone.
Claro, como o conhecimento é algo que é adquirido com dedicação, estudo e experiêcia ao longo do tempo, que permanece connosco pois ficamos casados com ele, sendo fácil libertá-lo por pior orador que se sejamos.
Quanto à opinião, esta depende do assunto e é sempre contrária a uma opinião já exposta.
Exemplo: (exagerado, mas real):
Falando de rinques de dimensões 40x20 metros, alguém sugeriu que a linha de anti-jogo deveria estar a 18 metos da tabela de tôpo. Aí o «Chico Esperto» interrompe, rápido por ter a palavra:
-«Na minha opinião, acho que a linha deve ser traçada a 22 metros da tabela de fundo». Isto invariávelmente leva a uma discussão sem fim, indiferentes ou inconscientes que os 18 ou 22 metros, são afinal exactamente a mesma coisa para efeitos práticos''.