Hóquei inglês (23/09/12)

 

Formação do Norwich

 

                Inglaterra, o berço do Hóquei em Patins. Outrora exemplo de qualidade e quantidade, revela-se nos dias de hoje como um exemplo de resistência às adversidades que a modalidade vive num país cuja modalidade foi praticamente destruída pela II Guerra Mundial, dividindo a história do hóquei inglês em duas partes completamente distintas; o pré e o pós II Guerra Mundial. Mais recentemente (1996), este tem-se vindo a recompor com a chegada do técnico português José Carlos Amaral, ainda que a capacidade financeira não acompanhe de forma alguma a capacidade organizativa.

Pier Pavillion em Herne Bay

                Antes de 1939, o hóquei inglês figurava como um dos melhores do Mundo, obtendo um recorde de 12 europeus conquistados consecutivamente entre 1926 e 1939, sendo que dois destes títulos também foram mundiais, dado que a mesma prova era considerada como europeu mas também mundial. Era o país mais evoluído, contando com cerca de 2.000 ringues preparados para a prática do hóquei e espalhados por todo o país. Foram também os pioneiros do hóquei em Portugal e Suíça, internacionalizando-o. Contudo, pela altura da II Guerra Mundial a hegemonia inglesa terminou. Após 1945 destaca-se apenas um vice-campeonato europeu em 1948, de resto e até hoje, nunca mais a selecção inglesa atingiu um pódio europeu ou mundial sénior. Infra-estruturas destruídas e gerações perdidas pela guerra, o hóquei inglês desceu consideravelmente o seu nível e ainda que no Mundial de 1947 realizado em Lisboa (a primeira grande competição internacional após a grande guerra) tenha contado com a base da selecção que havia vencido o europeu/mundial em 1939, todo o futuro das selecções inglesas estava comprometido, quer ao nível da qualidade - entre as décadas de ’40 e ’60 em que as selecções britânicas participavam em todas as competições mas sempre com classificações modestas - quer ao nível da quantidade, visto que a progressiva queda do numero de praticantes originou dificuldades às selecções inglesas e até à sua ausência nas grandes competições entre as décadas de ’60 e ’80. Entre as décadas de ’80 e ’90 a selecção inglesa voltou a integrar as competições internacionais com frequência, ainda que apenas em Europeus e Mundiais B. Em 1996 iniciou-se uma revolução no hóquei inglês que ainda hoje oferece ao mesmo resultados idênticos aos do pós-guerra, em que a equipa para além da participação habitual em Europeus e Mundiais também tem alcançado alguns resultados medianos, mas muito interessantes tendo em conta o nível estrutural em que se encontra o hóquei britânico actual.

 

José Carlos Amaral

                O principal mentor desta revolução foi o português José Carlos Amaral, primeiro treinador profissional de Hóquei em Patins em Inglaterra. Chegou em 1996 para seleccionar a equipa sénior britânica e mais tarde tornar-se no seleccionador de todas as selecções inglesas, masculinas e femininas. Quando pegou na selecção sénior masculina, os ingleses vinham de uma ausência de quatro anos sem competir internacionalmente, após três participações consecutivas em Mundiais B (entre 1988 e 1992). Entre 1996 e 2000 participou em três Mundiais B, finalizando o primeiro milénio com a subida ao Mundial A (14 anos depois da sua última participação), após a conquista do Mundial B em casa (Catham, Londres). Desde aí, a selecção inglesa não mais se ausentou do Mundial A, tendo actualmente seis participações consecutivas, algo que só havia alcançado e superado entre 1947 e 1960. Entre 2001 e 2004 a selecção inglesa participou alternadamente em Mundiais A e B, conseguindo em 2005, 2007 e 2009 o apuramento directo para os seguintes Mundiais A (ou seja, sem obrigatoriedade de disputar Mundial B). Também nas camadas jovens houve uma melhoria evidente, culminada no regresso ao pódio de uma competição internacional. Aconteceu em 2010 com o terceiro lugar alcançado no Euro Sub-17 realizado em Northampton, naquela que foi a terceira cidade inglesa a receber uma competição internacional depois de Herne Bay ter recebido seis europeus de seniores masculinos entre 1926 e 1937 e de Catham ter recebido o Mundial B em 2000. Depois da II Guerra Mundial, foi o segundo pódio alcançado no universo de todas as selecções britânicas em competições internacionais. De facto, a principal melhoria que José Carlos Amaral não residiu no número de participações inglesas em competições internacionais, até porque entre 1980 e 2012 a selecção britânica apenas por três vezes não participou mundiais ou europeus jovens. O grande sucesso do técnico português residiu nos protocolos que conseguiu celebrar com a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, trazendo a Portugal cerca de 40 hoquistas ingleses num total de três estágios, e a criação dos Training Camps para evolução e selecção de jovens hoquistas para as selecções inglesas.

Premier League

 

                Apesar do progresso alcançado no início do presente milénio, as infra-estruturas nunca acompanharam esta evolução e as condições económicas têm vindo a regredir, sendo o hóquei inglês patrocinado quase por exclusivo pelos próprios praticantes e respectivas famílias, algo que nos últimos anos tem dificultado e de que forma o trabalho de José Carlos Amaral, obrigado nos dias de hoje a seleccionar atletas de acordo com as possibilidades financeiras ou laborais. Começando pelo primeiro aspecto, é importante referir que no berço do Hóquei em Patins, não existe actualmente um único ringue com as medidas mínimas exigidas para a prática da modalidade, na Grã-Bretanha. O mesmo se pode dizer das tabelas que circundam os ringues em Inglaterra, dado que nenhuma tem as medidas correctas, estando todas elas altas demais ou simplesmente não existindo, sendo substituídas por paredes. Os ringues também são, na sua maioria, pavimentados com sintético que prejudica a prática da modalidade e muitos dos actuais 30 clubes com executantes de Hóquei em Patins têm de alugar pavilhões privados para poderem jogar ou treinar. No que respeita à segunda grande dificuldade do hóquei inglês, esta tem vindo a restringir cada vez mais a evolução do hóquei inglês, dado que as deslocações necessárias às participações nas competições internacionais exigem um grande investimento e esse investimento tem estado, constantemente nos últimos anos, na iminência de desaparecer. Nos últimos dez anos José Carlos Amaral tem sido forçado a alternar as convocatórias dos europeus e mundiais seniores para que os atletas tenham capacidades financeiras de pagarem as deslocações, ou seja, muitos dos atletas convocados para europeus, não figuraram Mundial A do ano seguinte ou no Mundial B que se realiza em anos de europeus. A título de exemplo, entre 2007 e 2012, a selecção sénior inglesa conta com uma média de cinco alterações nas convocatórias de europeus e mundiais, de ano para ano.

Montevideo 2002, Mundial B

 

                Grandes dificuldades num país que conta actualmente com cerca de 1.000 praticantes, 16 equipas seniores a competir em duas divisões nacionais, cada uma albergando oito formações, mas que nos últimos dez anos tem melhorado bastante, tanto ao nível colectivo (com as selecções nacionais), como ao nível individual, contando neste momento com dois atletas a actuar em Espanha (Liam Conroy irá actuar no Igualada da OK Liga e Ian Morrison que actua no Areces da Primera División) e um em Itália (James Taylor no Bassano), tendo sido este o primeiro jogador profissional inglês de Hóquei em Patins.

James Taylor