Hóquei português (28/07/12)

 

 

Selecção nacional de 1998

 

                A Federação de Patinagem de Portugal (FPP) representa um dos países em que o hóquei está mais distribuído geograficamente, quer ao nível qualitativo quer ao nível quantitativo, sendo por esse motivo um dos poucos países onde o hóquei conquistou um espaço de relevo na sociedade, nomeadamente nos meios de comunicação social. A título de exemplo, Portugal é o único país no Mundo – a par da Itália – em que o Hóquei em Patins é transmitido em canal aberto de televisão, tendo uma média compreendida entre os 100 e os 200 mil telespectadores. Se tivermos em conta que existem cerca de 7.000 praticantes, facilmente se depreende o carinho que os portugueses têm pela modalidade, proporcionando tão boas audiências televisivas.

                O hóquei português, como foi dito anteriormente, encontra-se espalhado por todo o país, estando representado nos vinte distritos que compõem Portugal, tal como nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Desses vinte distritos, sete estiveram representados no campeonato nacional da primeira divisão da época 2011/2012, tal como as duas regiões autónomas. Contudo, existem três grandes pólos onde a qualidade e a quantidade se destacam; as metrópoles de Lisboa e Porto que dominam o panorama nacional ao nível de praticantes e títulos (inclusive um recorde de títulos consecutivos alcançado pelo FC Porto, num total de 10 campeonatos nacionais de seniores masculinos consecutivos) e a região do Minho que se tem revelado como a única região capaz de se intrometer ao nível de títulos nacionais seniores e de camadas jovens. Os distritos do Porto e de Lisboa comportam actualmente cerca de 50% da totalidade de praticantes em Portugal e, desde a revolução dos cravos, só por três vezes o campeonato nacional de seniores masculinos não foi entregue a equipas destes dois distritos. Esses três campeonatos foram conquistados pelo OC Barcelos do Minho, único clube a par da Juventude de Viana (também do Minho) que desde 1986/1987 (época em que a Oliveirense foi vice-campeã) tem dividido títulos e segundos postos com clubes oriundos de Lisboa e Porto.

SL Benfica 2002/2003

 

                O campeonato nacional da primeira divisão de seniores masculinos está, neste momento, numa fase de recuperação, depois de ter passado uma fase de profunda regressão, provocada por vários aspectos; falta de transmissões televisivas, falta de verbas, taxas excessivas impostas pela FPP, falta de inovação e propaganda à modalidade e falta de trabalho na formação, facto que ainda vai tendo muitos e maus resultados para o panorama actual no hóquei português. A década de 90 foi de ouro para o hóquei português. Dois campeonatos do Mundo, quatro campeonatos da Europa e duas ligas europeias de clubes, tratou-se de uma geração marcada por jogadores que se superiorizaram no capítulo internacional (Guilherme Silva, José Carlos, Tó Neves, Paulo Alves, Pedro Alves, Filipe Santos, Vítor Fortunato, Rui Lopes, entre outros), assim como treinadores (Carlos Dantas, José Fernandes, António Livramento, entre outros). Esta geração foi acompanhada de um crescimento económico assinalável em Portugal, estando o hóquei que havia sido olímpico em 1992 no topo das preferências dos investimentos das empresas portuguesas, dadas as raízes históricas da modalidade no país. Grandes investimentos por parte dos clubes em que a importação foi um habituer, sejam eles do topo ou do fundo da tabela classificativa, mas também da FPP, no que diz respeito às transmissões televisivas, essencialmente. Para se ter uma ideia, dos 40 atletas que participaram nas meias-finais do Mundial de San Juan em 2001, 18 iriam actuar no campeonato português na época seguinte (2001/2002). Investimento total no imediato, grande visibilidade da modalidade mas investimento nulo em relação ao futuro. Falta de cooperação entre FPP e ensino escolar, falta de inovação nos processos de ensino no que concerne à formação dos treinadores que aprendiam até há bem pouco tempo com base em documentos, muitos deles datados da década de 80. Esta estagnação ocorreu também ao nível da expansão e propaganda da modalidade, no que concerne ao acompanhamento da actualidade e modernidade sempre necessárias para a captação de jovens praticantes. Assim, depois da geração de ouro que tantos títulos conquistou, depois da melhoria económica do país que tanto investimento gerou e depois de uma propaganda reduzida e resguardada exclusivamente na tradição que o hóquei tem no país surgem os problemas estruturais abraçados a uma situação económica negativa.

Desilusão no Mundial 2007

 

                A meio da primeira década do actual milénio algumas alterações começaram a suceder-se. As dívidas contraídas pelos investimentos feitos pela FPP (presidida por Fernando Claro desde Agosto de 2003 até à presente data) ao nível das transmissões televisivas tiveram de ser solucionadas e como resultado, pagaram os clubes. As taxas das organizações de jogo aumentaram quase para o dobro em 2006/2007 para além do aumento da taxa de inscrição de jogadores. Fim das transmissões televisivas, fim da remuneração aos clubes formadores (sendo este dinheiro canalizado por inteiro para a FPP), falta de títulos internacionais quer das selecções quer dos clubes, entre outras contrapartidas que motivaram uma crise na ambição e na competição dos envolvidos na modalidade, pois se o clube que forma nada ganha, se o clube que vence não é recompensado monetariamente, se o jogador não encontra uma gama de clubes capazes de sustentar a sua qualidade, então a vertente competitiva que é a essência de qualquer desporto, esvazia-se. Como se não bastasse, surge a crise económica mundial iniciada em 2008 e não é só a FPP que se ressente. Foram naturalmente os clubes quem mais sofreram com estes factos, tendo que pagar os erros de uma FPP agastada por um lado e sofrendo com a conjuntura económica do país por outro. As condições oferecidas aos hoquistas diminuíram e têm vindo a diminuir e de que forma. A título de exemplo, dos 40 atletas que participaram nas meias-finais do Mundial de San Juan em 2011, 12 actuavam na primeira divisão portuguesa, menos seis que em 2001. Sem poder económico, sem inovação e sem visibilidade, tornou-se obrigatório recorrer à formação…que praticamente não houve. Sistemas de captação e formação de atletas já muito antiquados, falta de contacto com as escolas, etc. Resultado: os resultados internacionais não aparecem (entre 2000 e 2011, um único título internacional de selecção no Mundial 2003 e uma Taça CERS conquistada pelo Benfica em 2011), as referências não aparecem e torna-se difícil cativar alguém a praticar uma modalidade em que não existem referências ou campeões internacionais. A título de exemplo, a média de idades do campeonato nacional da primeira divisão 2011/2012 foi aproximadamente de 27 anos.

Luís Sénica, antigo Director Técnico Nacional

 

                Muitas das falhas aqui referidas foram já solucionadas, mas os resultados demorarão a aparecer. As passagens de Luís Sénica (Director Técnico Nacional entre 2004 e 2009) e de Jorge Lopes (Director Técnico Nacional desde 2009 até ao momento) pela FPP provocaram uma revolução no que toca à vertente formativa de jogadores e treinadores. Foram os principais responsáveis pela renovação dos processos de formação e dos documentos de aprendizagem, tal como a alteração de regras de jogo nas camadas jovens por forma a beneficiar a aprendizagem dos atletas e as celebrações de protocolos escolares que vão sendo feitas desde 2009. Este último trata-se de um dos passos mais importantes para a captação de novos atletas. De facto, o ensino escolar é um dos principais responsáveis pela discrepância entre o número de federados na patinagem e as restantes federações desportivas em Portugal. Apesar do crescimento do número de federados na patinagem, o crescimento tem vindo a ser brando quando comparado com outras modalidades.

Benfica, vencedor da Taça CERS em 2011

 

                Também a vertente da visibilidade tem vindo a melhorar. Esta está dividida em duas partes, a visibilidade para a sociedade inserida no hóquei e a visibilidade para a sociedade não inserida no hóquei. Na primeira o panorama encontra-se de boa saúde, graças ao aparecimento de alguns sítios cibernéticos de grande nível, que vão informando sobre praticamente tudo o que acontece no hóquei português ao nível dos resultados em directo, marcadores e classificações (hoqueipatins.com) mas também das notícias que marcam o dia-a-dia da modalidade (mundook.net, entre outros). Outro passo fundamental para o crescimento e estabilidade do hóquei foi dado com o aparecimento da Plurisports, empresa que se encarrega de transmitir encontros das mais variadas competições nacionais e que permite a todos os amantes da modalidade acompanhar todo o hóquei nacional. Já no segundo ponto, a visibilidade proporcionada à sociedade portuguesa tem estado a meio gás, dado que as transmissões televisivas na RTP2 (financiadas pela FPP e pela Plurisports) têm aparecido…a conta-gotas.

FC Porto, deca-campeão nacional

 

                Recentemente, uma nova questão relacionada com a reestruturação geográfica das associações surgiu. O desaparecimento de muitas colectividades afastadas de metrópoles aleado à modificação demográfica do país levou a FPP a convidar as associações do país a lançar uma proposta de reestruturação associativa. As propostas são unanimes quanto à redução de associações, mas diferem no formato das mesmas. A Associação Nacional de Associações e Clubes de Patinagem (ANACP) e a Associação de Patinagem de Lisboa (APL) propõem seis associações (Norte, Centro Norte, Centro Sul, Sul, Madeira e Açores), a Associação de Patinagem de Aveiro (APA) e a de Setúbal (APS) propõem sete associações (Norte, Centro Norte, Centro, Centro Sul, Sul, Açores e Madeira) enquanto a Associação de Patinagem do Minho (APM) propõe oito (Minho, Porto, Lisboa, Madeira, Açores, Centro Norte, Centro Sul e Sul). Outras propostas relacionadas com o melhoramento do funcionamento da FPP e das associações foram levantadas, tais como: redução ao mínimo do papel a utilizar (ANACP), levantamento de todos os recintos disponíveis para a prática da patinagem (ANACP), redução de taxas (ANACP), apoio ao rejuvenescimento com redução de taxas de contratação de atletas recém-chegados ao escalão sénior (ANACP), criação de equipas ‘’B’’ (ANACP), aplicação das leis de jogo aplicadas até aos Escolares nos Infantis e nos Iniciados (ANACP e APL), eliminação da terceira divisão nacional sénior e passagem para campeonatos regionais (APL), redução de equipas dos campeonatos nacionais jovens, de 24 para 16 formações (APL), entre outras.


          O hóquei português terá uma das maiores provas de fogo dos últimos tempos: tentar conquistar em casa o título europeu de seniores masculinos no próximo mês de Setembro e manter a tradição de vencer sempre a jogar em casa.


Distribuição actual de hoquistas pelas associações (valor aproximado)

Lisboa – 1.800

Porto – 1.500

Aveiro – 700

Minho – 550

Setúbal – 500

Ribatejo – 460

Leiria – 350

Coimbra – 300

Alentejo – 300

Açores – 250

Algarve – 150

Madeira - 140

Rui Neto, actual seleccionador nacional