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Por que é que a Espanha vai ser de novo campeã do Mundo?

25-06-2015 15:44



Há vários factores que explicam esta teoria. Comecemos pela parte de fora do rinque e terminemos pelo interior das quatro tabelas. Em termos de números - que em nada ajudam a definir o futuro, mas ajudam a percebê-lo – todos sabemos que a Espanha conseguiu, nos últimos sete mundiais, seis primeiros lugares. Contando com o presente, Carlos Feriche foi o timoneiro em seis, Catxo Ordeig em uma e Quim Pauls em 2015. Utilizaram-se 33 jogadores diferentes ao longo de 14 anos. Se compararmos com Portugal e Argentina, até nem foge muito. Ambos utilizaram 35, com a pequena grande diferença de Portugal ter sido liderado por cinco selecionadores diferentes e a Argentina, seis, contando com o presente Mundial. A Itália utilizou 40, escolhidos por cinco selecionadores distintos.

Diferença no número de técnicos à partida para o Mundial de França, e no número de mundiais de cada convocado. Se juntarmos o número de mundiais feitos pelos convocados de Luís Sénica, chegamos a um número bem inferior quer de Espanha quer de Argentina: 23 contra 31 de ambas. Significa que a experiência é bem maior das duas formações finalistas nos últimos três mundiais. Mais, Valter Neves é um único luso com mais de cinco mundiais realizados (seis). Na Argentina só Carlos Nicolia e Carlos López chegam à mão cheia. Na Espanha, temos a espinha dorsal, a razão de tudo isto, com oito (Pedro Gil), seis (Jordi Bargalló) e cinco (Marc Gual). Enquanto este esqueleto não for desfeito, derrotas para os espanhóis resumem-se a erros de percurso, como no Europeu do ano passado onde a eleição do guarda-redes Xavi Puigbí como substituto de Guillém Trabal e Sergi Fernández contribuiu para o insucesso. Portanto, e para resumir o tema dos números, é juntar o número reduzido de selecionadores que proporciona à equipa espanhola um fio de jogo idêntico a um qualquer clube de topo à qualidade do trio Gual, Bargalló e Gil. Em Portugal, já vimos este filme, com a geração de 90 que terminou em 2000 precisamente com o aparecimento de uma Espanha igual a si mesma há 15 anos.

Sim. Dirá que nessa altura Portugal também tinha uma seleção histórica, vencedora, até ao início do período de domínio espanhol cujos números também não os ajudavam. E de facto está correto, mas para refutá-lo, passamos então ao interior do rinque, e deixamos os números, que já nos ajudaram à abordagem do tema.

Vá ao youtube e veja as finais dos Campeonatos da Europa de 1998 e 2000. Um venceu Portugal, o outro a Espanha, pela mesma ordem. Mas compare a diferença do estilo de jogo espanhol de uma final para a outra. Verá as mesmas diferenças que ainda hoje separam Portugal do outro lado da Península Ibérica. Os espanhóis têm um jogo muito mais dinâmico. Em ataque organizado, conseguem ter quatro jogadores em movimento com toda a facilidade e à vontade – também já vimos este filme, com a nossa geração de 90. Mas, acima de tudo, é no contra-ataque que se faz a diferença. E onde começa um contra-ataque? Na defesa. Em Portugal, ainda vemos este filme, mas no Benfica. A Espanha não só é a melhor seleção do Mundo a pressionar, como também a melhor do Mundo a contra-atacar com dois, três ou quatro jogadores – tendo a Itália, ainda que com outra velocidade, como único termo de comparação. Portugal nem sabe o que é contra-atacar com quatro elementos e para fazê-lo com três tem uma tremenda dificuldade. Pressionar a defender também é praticamente tabu contra grandes seleções.

Mais. Não basta apenas saber pressionar a defender, é preciso saber atacar sob pressão. Já nem vamos pela pergunta ‘lembra-se de ver Portugal vencer a Espanha?’, a verdadeira claro. Vamos pela pergunta ‘lembra-se de ver Portugal fazer uma reviravolta contra a Espanha’? Lembra-se? E ao contrário? Basta irmos à final do Europeu de Paredes. Mas também podemos ir às meias-finais do Mundial 2005. Ou às meias-finais do Europeu 2004. Se a Espanha estiver em vantagem dilata, porque sabe jogar sob pressão. Se a Espanha estiver em desvantagem recupera, porque sabe pressionar. Tem jogadores e entrosamento tático para isso. 

E os outros?
Portugal não é o único adversário da Espanha. Não contando com a Itália que tampouco tem qualidade para comparações, mesmo sendo campeã da Europa, mas por puro acidente de percurso como os próximos anos demonstrarão. Temos ainda a Argentina que está para o hóquei como o Brasil está para o futebol. E não se pense que tanto Espanha como Portugal estão no mesmo patamar no que toca a jogadores de topo. Não estão. A Argentina é a nação com maior quantidade de jogadores de qualidade. Só não tem organização. Se a tivesse, tinha argumentos para fazer frente à congénere espanhola. Aliás, é a única formação que nos últimos anos tem dificultado o passeio aos espanhóis. Os argumentos táticos que fazem a diferença estão no parágrafo acima, pelo que é escusado repetir. Com tudo isto, a Espanha, até por não ter vencido o Euro 2014, será novamente campeã do Mundo, a menos que as soluções descritas no parágrafo abaixo venham ao de cima. E mesmo assim…

Soluções
Para um curto prazo, que é como quem diz este Mundial, só existem duas soluções para Portugal e Argentina. Parar o jogo, torná-lo pouco dinâmico. Não permitir ataque-contra-ataque. A Espanha tem um bom ataque organizado, mas não é isso que a faz temível. É o ritmo alto de jogo e os consequentes contra-ataques. Para tal, alargar as peças ao longo de todo o rinque é imperativo, fazer andar mais a bola que os jogadores. Angola fez isso. Para a Argentina só existe esta hipótese, porque a qualidade do seu guarda-redes não permite a segunda. Portugal deposita tudo em Girão, sem dúvida a nova grande estrela portuguesa e o herói por que todos esperam, como aquelas da geração de 90, a par de João Rodrigues.
 

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