Hóquei suíço (05/08/12)

 

Genève RHC no Dragão Caixa

 

              A Suíça está a atravessar uma fase de renovação no seu hóquei, depois de ter vivido o momento mais dourado da sua história. A selecção suíça é uma das mais antigas no panorama do hóquei mundial, estando desde a primeira hora nas grandes competições internacionais e há no país um dos torneios mais conceituados mundialmente, o Torneio de Montreux (berço do hóquei suíço e que foi implementado por turistas ingleses) que se realiza desde 1921, tendo lugar de dois em dois anos nos dias de hoje. Depois de uma fase menos boa em que esteve cinco anos de fora das grandes competições, a formação helvética não tem falhado uma grande competição desde 1989, fazendo um trabalho progressivo e sustentado com os atletas que vêm integrando as selecções nacionais. Depois das gerações dos anos ’30 e ’50 que haviam conquistado vários terceiros e quartos lugares nos europeus (inclusive um segundo lugar em 1937) e um terceiro e quarto lugares nos mundiais, a Suíça esteve vários anos longe do pódio, chegando inclusive a não participar em grandes competições (entre 1984 e 1989). 

Suíça no Mundial de 1980

 

No início dos anos 1980 o hóquei suíço sofreu várias alterações, quer ao nível da qualidade quer ao nível da quantidade. Os clubes suíços estavam concentrados a 100% nas regiões de língua francesa e alemã, sofrendo um exponencial alargamento a partir de 1985 com o início do Hóquei em Patins na região de língua italiana. As regiões de língua francesa e alemã também aumentaram os clubes de Hóquei em Patins e no início da década de ’90 o número de clubes suíços já tinha duplicado (de cerca de cinco a sete clubes para 15). Das oito equipas que compuseram o campeonato suíço da primeira divisão (LNA) em 2011/2012, seis foram fundadas na década de ‘80. O crescimento apoiado também ao nível das selecções por ex-atletas com elevada experiência internacional como Jean-Baptiste Piemontesi ou Jean-Luc Christen permitiram à selecção helvética um conjunto de resultados muito positivo. Três quartos lugares consecutivos em campeonatos da Europa (1994, 1996, 1998) e uma subida considerável de posições nos mundiais (11º em 1989, 9º em 1991 e três sextos lugares consecutivos em 1993, 1995 e 1997) colocaram a Suíça como a primeira potência não-profissional do Hóquei em Patins mundial.

Juniores em Santander 2005

 

                De facto, tamanha evolução não foi acompanhada por umas das vertentes mais importantes do crescimento, o factor financeiro. O hóquei suíço sempre foi e continua a ser 100% amador, sendo muitas das vezes necessário que os jogadores que formam a própria selecção paguem toda a logística a que as grandes competições internacionais obrigam. Ainda assim, o crescimento não parou. No final da década de ’90 já existiam cerca de 20 clubes na Suíça e no início da primeira década do actual milénio surgiram dois movimentos de elevada importância para o aumento contínuo de qualidade do hóquei suíço. Primeiro; o aparecimento de treinadores ibéricos nas selecções nacionais e nos clubes. Segundo; o envolvimento de clubes austríacos e alemães próximos da Suíça nos campeonatos nacionais helvéticos, assim como o aparecimento de jogadores ibéricos, italianos e argentinos na LNA.

Geração de ouro do hóquei suíço

 

                O primeiro aspecto foi a olhos vistos muito benéfico para o hóquei suíço, principalmente para as selecções. No ano de 2000 o português Pedro Antunes assume a liderança da selecção júnior suíça, permanecendo com esta selecção até 2006. Alcançou dois quintos lugares, quatro quartos lugares e um terceiro lugar. O terceiro lugar é, até hoje, o melhor resultado alguma vez conquistado por uma selecção jovem suíça. Foi conquistado em 2005 na cidade de Santander (Espanha). Nesta selecção figuravam como Roman Langenegger (guarda-redes menos batido do torneio), Simon von Allmen, Gael Jiménez e Federico García-Mendez. Os dois últimos acabariam por dar em 2006 e 2007 as melhores classificações já alguma vez alcançadas por uma selecção suíça sénior em campeonatos da Europa e em campeonatos do Mundo. De facto, foi a geração de ouro do hóquei suíço que em 2005 já havia assustado Portugal nos quartos-de-final do Mundial sénior de San Jose com uma derrota pela margem mínima (3-2). Figuravam para além de Jiménez e Mendez; os irmãos Hauert na baliza, os irmãos Matthieu e Florian Brentini no ataque, Jérôme Desponds, Samuel Wenger, Michael Muller e Stefan Rubi, liderados pelo antigo internacional suíço Alain Richard. Estes dez atletas foram vice-campeões europeus em 2006 (Monza, Itália) e vice-campeões do Mundo em 2007 (Montreux, Suíça). Esta crescente qualidade do hóquei suíço fez de alguns destes atletas os primeiros hoquistas profissionais suíços, necessitando para isso de actuar no estrangeiro. Nils Hauert, Federico García-Mendez e Jérôme Desponds foram os atletas que emigraram, todos no campeonato italiano, sendo que Mendez também jogou no campeonato francês. Actualmente a selecção suíça conta com um catalão à frente da formação sénior. Trata-se do antigo jogador de selecção espanhola Nené Zabalia que esteve à frente da selecção helvética entre 2009 e 2011.
         

Pedro Antunes

    O segundo movimento de evolução do hóquei suíço prende-se com o campeonato interno. No ano de 2002 passou a ser permitido aos clubes austríacos e alemães que estivessem numa periferia próxima da Suíça pudessem participar nos campeonatos nacionais suíços, como forma de promover a competitividade e qualidade das competições. Clubes como o Weil ou o Friedlingen (ambos alemães e únicos não-suíços a figurar na LNA na época passada) entraram então no panorama do hóquei suíço, tendo já conquistado um título cada. Se por um lado o campeonato suíço fica enriquecido, também é verdade que estas formações contam com poucos (ou mesmo nenhuns) suíços, sendo que na época passada apenas um suíço figurava no Weil (Daniel Dietrich) e nenhum actuava no Friedlingen. Outra das novidades do campeonato suíço é a entrada maciça de jogadores oriundos de Portugal, Argentina, Espanha e Itália, sendo na época passada cerca de 20 os hoquistas naturais destes países a actuar na LNA. A vinda destes jogadores deve-se ao contexto económico destes países e a oportunidade de na Suíça encontrar um emprego e a possibilidade de aleá-lo ao Hóquei em Patins, este ainda praticamente amador a 100%. Do amadorismo exclui-se o Friedlingen, clube recente no panorama hoquístico mundial e que se sagrou campeão suíço em 2012. A formação alemã foi a primeira a utilizar jogadores profissionais no campeonato suíço, neste caso com a contratação do espanhol Jordi Camps, do brasileiro Michel Dantas Zanini e dos argentinos Cachi Paez e Chula Marimont.

 

Friedlingen, campeão suíço 2012

               Apesar de atravessar uma fase de transição em que finda grande parte de uma geração de ouro e das dificuldades financeiras persistirem, o hóquei suíço continua a apostar num futuro próspero e com grandes resultados na modalidade, quer pela aposta na juventude (dos 1.000 hoquistas federados, 60% pertencem às camadas jovens) quer pela aposta na qualidade (vinda de estrangeiros e participação de clubes estrangeiros em competições nacionais), por forma a fazer dos resultados alcançados em 2006 e 2007 um hábito, depois de ter feito o mesmo e de continuar a fazê-lo em relação aos resultados da década de ’90.