Hóquei angolano (22/08/12)

 

Selecção sub-20 angolana em Barcelos 2012

 

 

                História curta abafada por um futuro promissor. O hóquei angolano divide-se em três fases históricas, marcadas pela política; os anos da colonização portuguesa (início do século XX até 1974), o pós-colonialismo (entre 1975 e 2002) e o fim da guerra civil até aos dias que correm. Na primeira fase o hóquei angolano constituía-se na esmagadora maioria por atletas portugueses e apesar de existir uma qualidade razoável de modo geral, sempre foi nula a chamada de atletas a actuar em Angola para a selecção portuguesa. Destacam-se na época colonial os irmãos Guedes, os irmãos Chalupa, Rui Mangericão, Ascenso, Maló, Arménio Jardim, entre outros. Os clubes eram dirigidos e fundados por portugueses e com nomes portugueses (Benfica de Luanda, Benfica de Lubango, Sporting de Bié, Lobito SC, Petro e Sporting de Huambo, Banco Comercial de Angola, Atlético, Sporting e Benfica de Môçamedes, Sporting de Cabinda, entre outros) sendo o hóquei angolano uma pequena reprodução do hóquei português, praticado apenas em zonas metropolitanas de Angola (Nova Lisboa, Luanda, Benguela, Lobito, Moçâmedes, essencialmente). As primeiras equipas angolanas foram criadas nos anos ’30, realizando-se campeonatos provinciais até aos anos '60. A partir de então o Campeonato Nacional Português passou a albergar uma equipa das regiões ultramarinas de Angola e Moçambique, realizando-se um play-off entre os vencedores dos campeonatos das respectivas colónias ultramarinas, estreando-se para o efeito o campeonato sénior angolano em 1960. No ano de 1967 os moldes das competições seniores portuguesas alteram-se. Passou a existir um apuramento em Portugal Continental e ilhas da Madeira e Açores (campeonato metropolitano) que apurava duas formações, às quais se juntavam os campeões angolano e moçambicano. Assim, o Atlético Clube de Moçâmedes tornou-se na primeira equipa angolana a participar na fase final de um campeonato nacional português. Até 1973, data da última participação de formações pertencentes às colónias ultramarinas em competições lusitanas, destacaram-se o Benfica de Luanda e o Banco Comercial de Angola. Estas duas formações figuraram, no seu conjunto, por quatro vezes no pódio do campeonato nacional português entre 1969 e 1973, tratando-se do período dourado do hóquei colonial angolano, que iria receber a cereja no topo do bolo com a realização do Campeonato do Mundo de seniores masculinos no ano de 1974 em Luanda, no recém-construído pavilhão Cidadela, ainda hoje a catedral angolana do Hóquei em Patins. Seria o primeiro mundial realizado em solo africano, contudo, a história política tudo alterou.

Atlético de Moçâmedes

                Em Abril de ’74 dá-se a revolução dos cravos em Portugal Continental e todas as políticas ultramarinas são abandonadas. Todo o panorama hoquístico angolano se alterou. O Mundial ’74 mudou de sede para Lisboa devido à situação delicada que se vivia em Angola com a revolução e todo o legado português no que diz respeito ao hóquei angolano foi praticamente aniquilado. Apesar de alguns clubes fundados por portugueses continuarem sob alçada de angolanos, alguns desapareceram e outros clubes foram formados, clube esses que são nos dias de hoje da maior importância no hóquei angolano, tais como a Juventude de Viana, Petro de Luanda, GD Banca ou o HC Lobito. Os atletas que até 1974 eram maioritariamente europeus, foram substituídos por hoquistas angolanos na totalidade. O hóquei continuou a ser praticado apenas nas grandes metrópoles e entre 1974 e 2002 - ano em que terminou a guerra civil angolana – foi-se centralizando em Luanda, devido à quebra significativa de infra-estruturas vitimadas pelo clima bélico. A participação angolana em campeonatos do Mundo aconteceu pela primeira vez em 1982 e nos vinte anos seguintes o hóquei angolano manteve-se sempre a um nível razoável do ponto de vista internacional – com classificações em campeonatos do mundo entre o sétimo e o oitavo lugares - ainda que funcionasse de forma muito deficitária ao nível interno. Poucos clubes, pouca divulgação e o aspecto financeiro afastado, dada a indefinição política.

 

          

Torneio de Montreux

 

      Finalizada a guerra civil angolana, tudo se alterou. O Hóquei em Patins foi um dos desportos porta-estandarte do novo regime angolano (MPLA), ligando a modernização do país com os velhos costumes, visto que o hóquei sempre foi muito acarinhado não só por portugueses colonos mas também pelos angolanos. Com efeito, aliou-se ao processo de evolução da modalidade no território o factor mais importante de qualquer movimento modernizador: os meios financeiros. A Federação Angolana é, de longe, aquela que mais investe no crescimento da modalidade em todo o Mundo. Para que se tenha uma pequena ideia, o clube vencedor do campeonato angolano recebe uma quantia aproximada a 10.000 dólares. Este investimento tem vários caminhos a serem tomados, entre eles: massificação e internacionalização. Em apenas dez anos a Federação Angolana de Patinagem tem feito um trabalho a larga escala no que diz respeito à propaganda e massificação da modalidade no país, expandindo-a novamente para fora de Luanda (nomeadamente para Lobito, Huambo e Namibe), destacando-se a criação de infra-estruturas para a prática da modalidade (por exemplo o centro de treinos de alto rendimento de Luanda, Dream Space, ou o novo pavilhão Osvaldo Serra Van Dunem em Huambo). Hoje, Angola conta com cerca de 500 praticantes em aproximadamente 15 clubes. Os meios de comunicação social dão grande ênfase às competições nacionais e principalmente à selecção nacional, sendo que as principais competições em que entra a selecção palanca são transmitidas para todo o país através do único canal público televisivo (TPA), sendo estas emitidas igualmente pela TPA Internacional, o que significa que os jogos do combinado nacional angolano também são transmitidos para fora de Angola. No que concerne à internacionalização, os dirigentes angolanos têm feito uma aposta sustentada em várias colaborações vindas das principais potências da modalidade; Portugal, Espanha e Argentina. Em relação a Portugal, têm sido chamados à selecção angolana sénior e sub-20 alguns elementos de descendência angolana quer própria ou através de familiares. Esta inclusão de atletas descendentes veio acrescentar experiência e qualidade, dado que os atletas em causa actuam em campeonatos mais competitivos como o português. Entre o Mundial 2005 e a 11ª edição do Troféu Zé Du (2012) a selecção angolana contou com nove descendentes nas suas fileiras (Pedro Neto, Rui André, Rui Miguel, André Centeno, João Pinto, Tiago Sousa, Johe, Hugo García e Filipe Bernardino). Tanto em Portugal como em Espanha, a selecção angolana vem realizando alguns estágios, protocolos com clubes para integrar atletas angolanos nas suas fileiras, contando também com a colaboração de treinadores (nas selecções), jogadores (nos campeonatos nacionais e torneios) e árbitros (formações de arbitragem e torneios) ibéricos. No que diz respeito aos treinadores, os únicos seleccionadores não-angolanos até agora foram ibéricos, três portugueses (António Livramento, Francisco Velasco, Fernando Fallé) e um catalão (Miquel Umbert Riera). No caso argentino existem participações dos palancas em torneios sanjuaninos e cedência de atletas argentinos para campeonatos nacionais angolanos e torneios angolanos de relevo.

Dream Space, Luanda

 

                Os frutos de tamanho investimento têm vindo agora ao de cima, com as conquistas do Torneio da Vindima 2012 (Argentina) e do Troféu Zé Du 2012 (Angola) por parte da selecção angolana. As referências começam a aparecer, sendo que depois de Nando Graça (actual seleccionador nacional e a maior referência do hóquei angolano pós-25 de Abril de ’74) e Kirro (actuou nos campeonatos espanhol e português) apareceu esta década outro hoquista angolano com grandes capacidades para a prática da modalidade, apesar de ainda muito jovem. Trata-se de Big, hoquista que actua no GEiEG (Catalunha). Mas apesar da extensa preparação das selecções e de jogadores angolanos, o campeonato interno continua a não ser dos mais competitivos. O calendário competitivo angolano ao nível de clubes tem uma duração máxima de cinco meses - cerca de metade dos calendários competitivos das principais potências da modalidade - e a principal competição conta habitualmente com apenas oito clubes, cerca de metade das competições domésticas mais importantes nos países mais evoluídos na modalidade.

 

 

                39 anos depois do sonho do Mundial ‘74, a realização de um Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins em terras africanas ganha agora forma, com a atribuição do Mundial 2013 à Federação Angolana de Patinagem. Numa realidade completamente diferente, avizinha-se para Angola um futuro próspero, aparentando ser a par da França e da Alemanha o único país com capacidade para um sério investimento na modalidade e consequente expansão da mesma pelo globo.